Ludmila Lins Grilo
Politics • Culture • Law & Crime
A má-fé do Conanda no trato da agenda do aborto
December 19, 2024
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Há momentos na história em que o absurdo se apresenta com aparência de serenidade e virtude. A proposta de resolução do Conanda, prestes a ser votada na antevéspera de Natal, é uma dessas ocasiões. Sob o pretexto de proteger os direitos de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, o Conselho prepara o terreno para uma política que não apenas afronta os princípios constitucionais brasileiros, mas ressoa com práticas de um passado sombrio, e que está longe de ser enterrado.

 

O texto aberrante foi revelado pela Gazeta do Povo após discussões conduzidas em sigilo (link aqui). Pois é, ninguém sabia que o Conanda estava aprontando mais essa às vésperas do Natal, quando todo mundo está pensando nas festas. Conduta típica de quem sabe que está fazendo algo errado e quer fazer tudo na moita, pra passar despercebido.

A resolução estabelece que toda gestação de menores de 14 anos seja tratada como fruto de estupro, independentemente das circunstâncias. Até aqui, nada a opor: essa é a interpretação jurídica vigente mesmo. O problema surge quando a resolução elimina qualquer limite temporal para a prática do aborto, autorizando a interrupção da gravidez independentemente do tempo gestacional ou peso fetal. Isso significa que bebês prestes a nascer podem ser eliminados sob o eufemismo de “interrupção voluntária da gestação”. Não há limite. Não há dignidade. Não há humanidade.

Como em qualquer distopia que se preze, o Conanda tenta legitimar sua proposta amparando-se em princípios como “proteção integral” e “direito à saúde”. Chega ao cúmulo de dizer, no artigo 6º, I, que o “aborto legal” será realizado “de forma humanizada e respeitosa”, como se pudesse existir alguma humanidade ou respeito no ato de se matar um bebê.

Mas a retórica da proteção se converte em destruição. A resolução desvirtua o conceito de “autonomia progressiva”, transformando crianças vulneráveis em responsáveis por decisões devastadoras – decidir sobre a vida de outro ser humano – sem o amparo de seus pais ou responsáveis. É uma inversão abominável do que a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estipulam sobre o papel protetor da família.

A má-fé dessa manobra é explícita. A tentativa de votar uma resolução tão controversa no dia 23 de dezembro, quando a atenção da sociedade está voltada para as festividades de fim de ano, não é casual. Trata-se de um cálculo frio, um jogo político para evitar a mobilização de quem se oporia a uma agenda tão radical. Como se isso não bastasse, o texto ignora deliberadamente o artigo 7º do ECA, que assegura políticas sociais destinadas a garantir o nascimento e desenvolvimento sadio das crianças. O Conanda, órgão criado para proteger crianças, omite essa proteção essencial. A razão? Promover uma agenda ideológica que prioriza o aborto como solução.

 

Essa resolução, além de antiética, é flagrantemente inconstitucional. A Constituição Federal, no artigo 5º, assegura o direito inviolável à vida, e no artigo 227, impõe ao Estado, à sociedade e à família o dever de garantir à criança e ao adolescente o direito à vida, saúde, dignidade e convivência familiar. Ao permitir o aborto irrestrito, a proposta não apenas desafia esses princípios fundamentais, mas ameaça converter o Brasil em um laboratório para a normalização da morte de bebês. E nem entramos na evidente questão da inconstitucionalidade de uma resolução proveniente de um órgão que se acha em posição de tratar do direito à vida como legislador constitucional fosse.

A crueldade da proposta atinge níveis inimagináveis ao eliminar qualquer limite de idade gestacional. Técnicas como a assistolia fetal, mencionadas na prática médica como formas de aborto tardio, assemelham-se mais a métodos de tortura do que a procedimentos de saúde. Essa técnica, realizada após a 20ª semana de gestação, provoca a morte do bebê por injeção química, queimando-o de dentro para fora de forma lenta e dolorosa. Como não lembrar aqui dos horrores da Alemanha nazista, onde a desumanização sistemática levou à cremação de seres humanos em câmaras de gás? Se naquela época os réus alegaram “apenas seguir ordens”, o que dirão agora aqueles que defendem que crianças decidam sobre a morte de outros seres humanos?

É nesse contexto que se revela a verdadeira face dessa resolução: uma tentativa do governo brasileiro de pavimentar o caminho para o aborto irrestrito. O Conanda quer impor um modelo no qual crianças decidirão sobre a morte de outras crianças, utilizando a estrutura dos Conselhos Tutelares para facilitar o genocídio de vidas inocentes.

Essa resolução não pode ser analisada isoladamente. Ela é parte de uma estratégia global para desestabilizar os marcos éticos e jurídicos que protegem a vida. Em 2022, a Organização Mundial da Saúde alterou a definição de aborto na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), permitindo que o termo abarque procedimentos em qualquer estágio da gravidez. Desde então, pressões internacionais têm incentivado países a adotarem legislações que autorizem o aborto até os nove meses. O Brasil, com sua forte resistência cultural à prática, é um alvo prioritário para essa agenda.

Diante de tudo isso, o Conanda não age apenas de forma irresponsável. Age como cúmplice de uma agenda que banaliza a vida e transforma o aborto em um direito absoluto, desconsiderando suas implicações morais, éticas e sociais, especialmente quando confere a uma criança a responsabilidade de uma decisão dessa magnitude sem a assistência dos pais.

Os brasileiros, firmados em princípios que valorizam a vida e a dignidade humana, não podem se calar. É preciso resistir, com todas as forças, contra essa resolução inconstitucional e perversa, que ameaça transformar o país em um palco para a tragédia silenciosa da morte institucionalizada.

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Por que houve operação da Polícia Federal contra Carlos Bolsonaro

Ontem, Jair Bolsonaro fez uma live que colocou mais de 400 mil pessoas assistindo ao vivo, o que coloca Lula em situação constrangedora, já que, por falta de público, resolveu não fazer mais lives.

Esse seria o grande assunto de hoje, claro, mas Moraes foi rápido em arrumar a cortina de fumaça, disparando um mandado de busca e apreensão assinado às pressas, entre meia-noite e 6 da manhã, segundo informou Eduardo Bolsonaro.

O que pode ser mais constrangedor (e ilegal) do que um ministro agindo politicamente para prejudicar inimigos?

Assim, o sucesso de Bolsonaro perante o público, apesar de todo esforço midiático e da máquina pública, ficaria abafado, mas o povo já entendeu como funciona o regime. Não tem mais bobo aqui.

00:01:29
Erro no Locals

Pessoal, novamente o Locals falhou na transmissão da live de hoje. Peço desculpas. De qualquer forma, está disponível lá no YouTube. Estou pensando seriamente de deixar de transmitir por aqui, em razão da quantidade de falhas desta rede.

Erro no Locals

Olá, pessoal! Acabei de perceber que a live com Alexandre Kunz deu erro aqui no Locals, pra variar… de qualquer forma, vocês poderão assisti-la no YouTube! 🥲

Olá, pessoal! Ontem a live infelizmente não funcionou no Locals, enquanto que no YouTube tudo transcorreu normalmente. O Locals nem sempre funciona bem, espero que melhore pro futuro. Daqui pra frente, acaso a live não rode por aqui, corram lá pro TV Injustiça no YouTube, OK?

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O show de asneiras de Dias Toffoli e Andrei Rodrigues
A indigência intelectual nas altas rodas da burocracia brasileira assusta e constrange

O Ministro Dias Toffoli e o Diretor-Geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, têm algo em comum. Nesta semana, ambos pareceram personagens tirados de uma comédia deprimente. Num mundo onde o debate público se afoga em clichês e analogias insensatas, eles decidiram competir pela medalha de ouro na disputa pelo pódio da indigência intelectual. Como a estupidez do ser humano é um poço sem fundo (mesmo nas altas rodas), não é de se espantar que o ministro e o delegado conseguissem a proeza de classificar atos de violência física como violação da... liberdade de expressão.

 

Toffoli, ao tentar justificar os limites do livre discurso, citou o caso de um policial militar que jogou um homem de uma ponte, afirmando que não se poderia aceitar esse comportamento como forma de liberdade de expressão (?!) Pelo visto, o ministro acredita (ou finge acreditar) que algum dia alguém sustentou que arremesso de corpo humano seria uma forma válida de discurso. Na verdade, o mais provável é que nem ele acredite nisso. O que importa, para ele, é usar cada acontecimento pra tentar justificar censura de discursos na internet, ainda que o fato em discussão não tenha nada a ver com isso.

Andrei Rodrigues, por sua vez, resolveu pontificar sobre imunidade parlamentar com argumentos dignos de quem passou a manhã inteira preparando seu discurso lendo a orelha da biografia do Alexandre Frota. “Não existe imunidade absoluta”, disse ele, para justificar o indiciamento do deputado Marcel Van Hattem, que discursou na tribuna (e o humilhou de forma retumbante, diga-se). Como exemplo de “abuso inaceitável” da imunidade parlamentar, o filósofo Andrei usou um exemplo constrangedor, argumentando que, hipoteticamente, se um deputado anunciasse a venda de cocaína ou de crianças no plenário da Câmara não estaria acobertado pela imunidade parlamentar (?!) O sujeito não percebeu que o ato de anunciar que se está vendendo algo ilícito significa uma ação concreta, e não meras palavras (no caso específico do tráfico, incide diretamente no artigo 33 da Lei de Drogas, nas modalidades vender, oferecer ou expor à venda).

No caso, os crimes contra a honra são crimes de palavra, e por isso, estão todos acobertados pela imunidade parlamentar. Agressão física e tráfico não são crimes de palavra. Injúria é.

Palavras são acobertadas pela imunidade parlamentar. Quaisquer palavras. Repetindo: QUAISQUER palavras (anunciar venda de cocaína no plenário não é palavra, é ato próprio de tráfico). Isso é o que diz o texto constitucional. Aliás, a palavra “quaisquer” foi inserida apenas no ano de 2001, com a emenda constitucional n.º 35, justamente para que nenhum imbecil continuasse alegando que a imunidade parlamentar tem limitações. Pelo visto, nem desenhando é possível conter o chorume despejado pelos juristas do regime.

Dias Toffoli e Andrei Rodrigues compartilham, portanto, o talento de criar espantalhos argumentativos. Nenhuma pessoa séria defenderia que a liberdade de expressão e a imunidade parlamentar poderiam incluir atos de violência ou tráfico de drogas. Aliás, nem entre os não sérios eu vi tamanha imbecilidade. Só eles dois mesmo – pelo menos até agora.

É lamentável que personagens tão desprovidos de raciocínio lógico ocupem posições tão destacadas. A máquina burocrática brasileira transforma mediocridades em excelsos. O sistema não apenas os coloca lá; ele os consagra como autoridades morais e intelectuais.

Toffoli, ex-advogado do PT, sempre foi uma figura que alçou voo não pela genialidade, mas pela habilidade de se manter na correnteza certa. Ser um gênio nunca foi requisito para subir ao STF. Já Andrei Rodrigues parece um funcionário de escritório chinfrim que acidentalmente tropeçou no microfone da sala de imprensa e começou a falar. Como não tem raciocínio rápido, nem lógico, acabou pagando de Dilma Rousseff.

A ignorância deles é uma baita tragédia, claro, mas a normalização dessa incapacidade intelectual nesses cargos de poder é um desastre ainda pior. A sociedade, apática, está tão anestesiada por décadas de mediocridade institucional que Toffoli e Rodrigues já não causam espanto. São apenas mais dois atores ruins encenando uma peça repulsiva.

O Brasil não apenas tolera essa estupidez dos figurões da alta burocracia estatal — ele a sustenta com blindagem e altos salários.

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BLACK FRIDAY: 80% de desconto no combo com TODOS OS MEUS CURSOS!
1) O Direito e a Guerra Cultural + 2) Código dos Concursos + 3) Clube Superacadêmicos + 4) Blindagem Anticancelamento + 5) Clube do Livro!

Aqui nos Estados Unidos, Black Friday é Black Friday mesmo. Não é tudo por metade do dobro, é desconto real mesmo. E eu resolvi adotar essa prática pros meus cursos esse ano. Resolvi fazer um combo com TODOS os meus cursos, e dar 80% de desconto. 80% de verdade!

Ou seja: você pagaria R$2.970,00 se fosse fazer todos, mas se comprar ATÉ AMANHÃ, vai pagar apenas R$597,00 à vista (ou 12x R$59,58). Inscrições aqui!

E quais são os cursos, e o que vou aprender com eles?

São 5 (cinco) cursos, no total:

 

  1. O DIREITO E A GUERRA CULTURAL

 

O Direito e a Guerra Cultural (DGC) é o meu curso mais importante, o mais fundamental, o que concentra o mínimo que você precisa saber sobre o assunto, e o que vai te dar os elementos intelectuais de que precisa para se orientar nessa selva que virou o mundo. Foi o primeiro curso que lancei, em setembro de 2021. Minha ideia era pegar tudo o que aprendi com o professor Olavo, resumir, facilitar, mastigar, e entregar para você. Acho que consegui fazer isso nas 16 aulas desse curso, que foi um sucesso estrondoso na época, ficou fechado por muito tempo e agora voltou. Não precisa ser estudante ou profissional do Direito pra assistir. A única coisa que te prometo é: você, no mínimo, sairá mais inteligente do que entrou. Prepare-se, porque o assunto do DGC é pesado, e você sairá de cada aula com um triplex alugado na sua cabeça.

As 16 aulas são:

 
 

Esse curso é pra explodir a cabeça de qualquer um. Se você tem filhos em idade próxima de ir para a faculdade, considere SERIAMENTE oferecer esse curso a eles. Servirá como um imunizante, pois ele estará indo pra selva de verdade, e chegando lá ele já terá a visão necessária para não se deixar contaminar. Inscrições aqui!

 

  1. CÓDIGO DOS CONCURSOS

     

    Esse é curso para quem deseja ser aprovado em concursos públicos. Eu revelei, pela primeira vez, o método de estudo e memorização que eu usei para ser aprovada no concurso da magistratura e em outros 4 concursos (o primeiro, aos 20, e o último aos 32 anos de idade). Aqui, eu compartilho o passo-a-passo que você precisa percorrer, desde a análise do edital, até a convocação. Além disso, trato das questões humanas sérias que o concurseiro tem que passar, o que inclui as cobranças da família e amigos, como enfrentar a humilhação nas reprovações, a anulação da vida social e todas as dificuldades sociais típicas deste percurso. Afinal, precisamos de gente preparada para enfrentar a guerra cultural nos melhores cargos públicos.

     

     

     

    As aulas do Código dos Concursos são as seguintes:

     

    Métodos e postura mental para aguentar o tranco. Tudo o que eu usei para conseguir a aprovação com detalhes. Isso é o que eu vou te entregar no Código dos Concursos. Inscrições aqui!

  2. CLUBE SUPERACADÊMICOS (CSA)

     

    O CSA é um clube de estudos semanal, uma verdadeira escola para quem busca realmente entender os acontecimentos mais importantes na política, no direito e na cultura, adquirindo repertório e confiança para o momento que estamos vivendo. Toda semana, você recebe uma nova aula sobre os temas relevantes do momento. O CSA é a sua dose semanal de lucidez em meio à desinformação.

Já tratamos dos temas da linguagem neutra nas escolas, PL da Anistia, cultura woke, ditaduras da Venezuela e Nicarágua, descriminalização da maconha, Twitter Files, Elon Musk, Padre Julio Lancellotti, e muito mais!

Já são 120 aulas disponíveis no CSA, e as aulas ao vivo acontecerão até março de 2025. Após isso, os alunos poderão continuar acessando as aulas do CSA que já aconteceram, pelo tempo de acesso ao produto. Inscrições aqui!

 

  1. BLINDAGEM ANTICANCELAMENTO

     

    Eu sei que não é fácil lidar com as críticas, perseguições, boicotes e tudo aquilo que envolve a intolerância dos progressistas brasileiros. Nesta aula, você vai aprender como eu me posiciono diante de centenas de milhares de pessoas, me exponho a severas críticas e, em vez de perder minha saúde mental, amadureço cada dia mais.

    Esse curso é composto de 5 (cinco) aulas:

    1) A gênese do cancelamento: o bode expiatório

    2) Quando os bons se calam: a Espiral do Silêncio

    3) Virando o jogo: a Teoria da Antifragilidade

    4) A Virtude da Fortaleza

    5) Blindagem definitiva: andando pelo Vale da Sombra da Morte

Fortaleça-se. Para viver no Brasil de hoje, posso te assegurar que isso será necessário, e esse curso vai te ajudar a encarar as bombas que estão por vir. Inscrições aqui!

 

  1. CLUBE DO LIVRO

     

    Neste ano de 2024, tivemos a estreia do nosso Clube do Livro. Estudamos os livros Arquipélago Gulag, A Vida na Sarjeta, A Nova Era e a Revolução Cultural, A Quarta Revolução Industrial, e em dezembro estudaremos o último, Ponerologia- Psicopatas no Poder.

    As aulas ficam gravadas para assistir quando quiser! Se você entrar hoje no combo, ainda poderá assistir à aula sobre o Ponerologia ao vivo em dezembro! Inscrições aqui!

Se você comprasse todos os cursos separadamente gastaria quase 3 MIL REAIS:

 

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NUNCA tivemos uma promoção destas. A promoção se encerra AMANHÃ.

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Cinco décadas de antegosto do paraíso
A lindeza de um casal de velhinhos renovando votos no altar

Era uma missa normal de sábado. Cheguei a tempo da confissão. Havia um casal jovem na minha frente, com dois filhos muito pequenos, e dois confessionários abertos (isso me impressionou). A moça entrou em um deles com a menina, e o rapaz entrou no outro com o menino. Pensei: “ainda bem que os bebês ainda não entendem nada”. É impossível escapar desses pensamentos sarcásticos, mas acabei me aprumando no final da missa, felizmente, como irei contar mais adiante.

Aliás, pode parecer um contrassenso, mas é muito mais fácil confessar em inglês. Explico. Isso dá uma sensação de distanciamento do padre, da paróquia, da cidade. Você é um estrangeiro que ninguém conhece, pode confessar as maiores vergonhas que nem se sente constrangido. Isso, porém, retira parte do mérito do desgraçado que está confessando, penso eu. Deveria contar pontos em dobro confessar sempre com aquele seu padre conhecidão, que sabe todos os seus podres. E talvez conte em dobro mesmo. Só que, no meu caso, não há nada que eu possa fazer, a não ser me confessar com o padre gringo. É o que tem.

Absolved and blessed, levinha e em estado de graça, fui caçar um lugar bom pra me sentar (entenda-se: nas primeiras fileiras, e centralizado). A missa era com o padre japonês, que na verdade deve ser nascido na América mesmo, porque tem sotaque normal daqui.

Uma gorda se sentou na minha frente e me atrapalhou a visão. Tive um lampejo de pensamento malicioso que logo se esvaiu, porque havia acabado de confessar, e não queria estragar tudo. Aliás, nesse mesmo momento lembrei de outro dia, em que uma outra gorda havia se sentado ao meu lado, com cheiro de Cheetos. Essas coisas me acontecem sempre imediatamente após as confissões, como se Deus me dissesse: “se der mole agora, vai ter que voltar lá no padre e passar vergonha”. Deus é muito espirituoso.

Tudo transcorreu normalmente a partir daí, sem que eu soubesse que aquela missa reservava algo inesperado para o final. Eu havia notado que uma família grande, de várias gerações, se assentava nos dois primeiros bancos, e todos pareciam estar especialmente trajados para alguma ocasião.

O padre chamou um casal de velhinhos dessa família para ir até a frente. Um menino que estava com o grupo foi chamado para segurar o livro de leituras. Era uma renovação de votos do casamento daquele casal. Eles tinham mais de 80 anos cada, e estavam comemorando 50 anos de casados.

Eles eram muito bonitinhos, ambos com a cabeça branquinha. Ela, com uma saia comprida e um casaquinho dourado. Ele, de blazer, todo pimpão. Filhos, netos e bisnetos, todos na primeira e segunda fileira.

Ele ficava com a mão apoiada nela, quando não se davam as mãos mesmo. Os dois de vez em quando se entreolhavam com carinha de apaixonados. Foi isso aí que me pegou. Lembrei logo de um vídeo que viralizou, de um casal assim no metrô de Nova York. Sem eles saberem que estavam sendo filmados, os dois velhinhos viajavam abraçadinhos e de mãos dadas, com cara de bobos.

Pelo menos aquilo serviu pra frear as besteiras que ocupavam minha mente. Logo me veio à cabeça algo mais digno do que a gorda cheirando a queijo. Lembrei daquela música linda da Shania Twain que fala justamente dos casais que perduram: “they said, ‘I bet, they’ll never make it’, but just look at us holding on, we’re still together, still going strong”. Em algum momento, notei que eu estava rindo. Pronto, aquela renovação de votos causou em mim um efeito físico perceptível que nem a absolvição do padre me havia proporcionado.

Eu nem era da família, mas eu estava encantada. Os pensamentos pouco caridosos do início da missa se transformaram, e meu coração ficou quentinho. Veio-me à mente aquela frase do Olavo:

“quando, um dia, o interesse sexual arrefece, o que vem no lugar dele é de uma doçura tão imensa e indescritível, que já é um antegosto do paraíso”. 

Eu sei que Olavo sabia do que falava, porque eu mesma presenciei isso na casa dele, em 2018: enquanto ele dava sua aula, a Roxane ficava sentadinha na poltrona ao lado, assistindo a tudo com carinha de adolescente apaixonada. Chegava a suspirar. De vez em quando, ela se levantava pra colocar café na xícara dele, ou pra levar-lhe Coca-Cola. E se assentava de novo, com um olhar de doçura do qual eu jamais me esqueci.

Eu vi, e eu sei bem o que vi. Aquele olhar dos velhinhos, um para o outro, era exatamente isso. O antegosto do paraíso. Isso é privilégio de poucos. Imagine viver cinco décadas assim.


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