Há mais de um ano, toda vez que eu abria o app do meu banco, eu já o fazia pensando: “hoje minha conta-corrente vai amanhecer bloqueada”. Tenho esse mesmo pensamento desde setembro de 2022, quando minhas redes sociais foram censuradas pelo ditador da Banânia, Alexandre de Moraes.
Curiosamente, até mês passado, minha conta bancária estava intacta. O previsível dia do bloqueio, enfim, chegou. Moraes perseguiu tanta gente que acabou ficando muito ocupado pra voltar a se lembrar de mim. Ninguém mandou caçar confusão com todo mundo. Não há equipe que dê conta de perseguir todos ao mesmo tempo, embora consigam altas façanhas neste particular. São mesmo muito operosos.
Nesse meio tempo, salvaguardei todos os meus bens da ditadura brasileira, naturalmente. Todo meu dinheiro foi para minha conta nos Estados Unidos, assim como todos os meus imóveis no Brasil foram vendidos, cujos valores arrecadados também foram enviados pra minha conta no Tio Sam. Antes de eu fazer tudo isso, porém, eu já havia salvaguardado outras coisas mais importantes: minha vida e minha liberdade. Eu já estava era asilada na gringa há muito tempo.
Havia um dinheiro, porém, que não poderia jamais ser salvaguardado, pois a ditadura teria o poder de bloquear na fonte toda vez que jorra. A tal da aposentadoria – no caso, a mixaria que restou (sim, uma mixaria, embora meia dúzia de apedeutas vivam berrando a respeito de uma delirante “aposentadoria integral” da qual eu nunca tomei conhecimento). Quanto a essa ninharia aí, eu pensava já de há muito tempo, nada há o que fazer. E, como a gente aprende desde criança – o que não tem remédio, remediado está.