Os últimos meses foram um verdadeiro filme de terror na minha vida. Gostaria de desabafar publicamente sobre isso.
Com a ansiedade a mil, comecei a comer como uma porca. Tudo eu compensava na comida. Fui de 58 a 80kg em quatro meses. Não me aguentava mais olhar no espelho, o excesso de pele escapulindo pelas frestas das roupas. Nenhuma calça entrava mais. Perdi praticamente todas as minhas vestimentas. Aquelas roupas lindas…todas já eram. Passei a usar só uma calça jeans gigante, e uma camiseta de malha preta, que eu revezava com uma outra, cinza. Era o que cabia.
Minha pele começou a craquelar, e umas rugas, subitamente, apareceram. Eu envelheci uns 10 anos em quatro meses. Os cabelos brancos abundaram. A pele perdeu o viço, e o cabelo ficou opaco e sem vida. As unhas ficaram quebradiças: eu parei de fazê-las e passei a roê-las. Nunca havia visto minhas mãos tão feias e descuidadas.
Parei de me maquiar. Perdi completamente a vontade de ficar bonita. Em um momento de desespero, joguei minhas maquiagens fora na caçamba de lixo.
Com o excesso de gordura e doces, comecei a apresentar problemas de saúde que nunca havia tido antes. Pressão e colesterol altos. Diabetes. Depressão e síndrome do pânico. Uns tremores passaram a me assustar de vez em quando. Nunca soube exatamente o que era.
Não conseguia mais sair de casa, não queria ver ninguém. Perdi a vontade de estudar e produzir. Parei de ir à missa. Nada mais fazia sentido pra mim.
O dinheiro começou a escassear, e eu, que sempre tive uma condição financeira muito boa, comecei a fazer dívidas. Tive que pedir dinheiro emprestado até para comprar comida. Eu estava completamente arruinada, e a tristeza tomou conta.
Se você chegou até aqui, peço que faça, agora, um exame profundo, sincero e honesto do sentimento que brotou aí dentro de seu peito, enquanto lia minhas palavras.
Fez?
Vamos lá. Eu aguardo mais um pouquinho.
Conseguiu?
Seja bem honesto mesmo. Não é um exercício muito fácil, pois, muitas vezes, você se verá diante de uma sujeira, um mau cheiro, uma putrefação as quais ninguém assumiria nem para sua própria sombra que poderiam existir dentro de si.
Então…se você sentiu tristeza e compaixão enquanto lia, tenho boas notícias. Siga em frente, você está indo no caminho correto. Parabéns! Só que esse texto não é para você.
Esse texto é pra você que sentiu aquela pontinha de satisfação; que se regozijou (tá bom, só um pouquinho, bem de leve…) com a destruição da minha vida; que leu, como um abutre, sedento pela próxima confissão, pela próxima narrativa de derrocada, pela próxima humilhação admitida; que pensou “bem feito, quem mandou?”; que deu um sorrisinho de canto de boca enquanto a baba escorria, e refletia sobre como eu fui imprudente e mereci todas as agruras. “Quem procura, acha!”; “essa aí colheu o que plantou!”; “da próxima vez, vai pensar duas vezes!”
Esse texto é pra você, demônio.
Agora, então, passemos à verdade dos fatos: o texto acima é uma ficção. Eu não engordei nem um grama. Minhas roupas estão ótimas e folgadas. Minha pele está viçosa e sem manchas. Do alto de meus 43 anos, minha aparência se mantém ainda jovem. Não ganhei uma ruga sequer.
A maquiagem está em dia, o cabelo está brilhoso, a unha está feita. A saúde está excelente, e a alimentação saudável.
Não sei o que é depressão, nem síndrome de pânico, a não ser por “ouvir dizer”. Passei a ter mais tempo para ler, estudar e produzir - além de ir à missa ainda com mais frequência. Hoje, vivo com muito mais intensidade a vida espiritual, até por conta do exílio - um dos maiores dramas humanos catalogados na literatura.
Os negócios e os investimentos permanecem saudáveis, lucrativos, crescendo e diversificando.
Veja: esse não é um post sobre a minha vida. Talvez você tenha se enganado com o título, pensando que eu estava xingando alguém que me prejudicara. Mas, não. Esse é um post de utilidade pública. É sobre VOCÊ.
Se você leu a primeira parte do texto com imensa satisfação, e sentiu toda aquela energia se esvaindo gradativamente enquanto lia a segunda parte, eu não tenho boas notícias para você.
Eu poderia alertá-lo de que você é uma pessoa tóxica, negativa, maliciosa, maledicente, ruim mesmo. Uma pessoa que se compraz no sofrimento alheio. E isso fica só aqui entre a gente. Ninguém precisa saber.
Mas, como escritora, eu prefiro usar as palavras e expressões mais certeiras para designar as coisas - e nenhuma dessas palavras expressa exatamente o que você é. Eu estou aqui justamente para ajudá-lo a se conhecer melhor.
Compreenda: você é um filho da puta.
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