Eu sempre tive ranço de acadêmicos empolados.
Sempre que eu chegava em uma universidade para dar alguma palestra, sabia que em algum momento eu teria que me desvencilhar de algum doutor de peito estufado arrotando citações. Aquilo é insuportável. Eu geralmente dizia que precisava ir ao banheiro. A tática sempre deu certo, até o dia em que um deles me acompanhou até a porta do toilette e ficou me esperando sair.
Mas antes fosse apenas uma estética cafona, esnobe, cringe ou démodé. Se a coisa se restringisse ao desconforto social pela convivência nos redutos da gabolice, vá lá. O problema é quando essa galera resolve influenciar na política, achando que seu academicismo ungido vai nos salvar da perdição. A coisa mais perigosa é quando esses intelectuais resolvem ter uma ideia, e, não satisfeitos, resolvem testá-la no mundo real, pulando do penhasco sem rede de proteção.
Os caras entram em uma pira baseada nas vozes de suas próprias cabeças - às quais eles atribuem a Rawls, Heiddeger, Alexy, Bobbio e tutti quanti - e ai de quem ouse discordar. Suas teorias são infalíveis, segundo dizem suas mamães. Eles só se baseiam em “fontes respeitadas” (não sei por quem).
Eles são capazes mesmo de fazerem lobby para um sujeito com evidente personalidade ditatorial ser nomeado para um alto cargo vitalício de poderes quase ilimitados. O xadrez 3D desses iluminados diz que isso será bom, claro! Como não tivemos essa ideia antes? O que poderia dar errado, não é mesmo?
Enquanto alguns intelectuais estão no meio do lamaçal empurrando o carro atolado, outros, limpinhos e cheirosos, ficam na calçada, assistindo a tudo de smoking, opinando se os enlameados estão empurrando a contento, e analisando se devem ou não jogar uma bigorna dentro do carro. O que será que Kierkegaard faria nessa situação?
Esses alucinados do LinkedIn têm muito a se preocupar com os próximos convescotes jurídicos - dá pra fazer muito networking, não é mesmo? - e com a próxima bibliografia estrangeira a acrescentar na dissertação para impressionar a patota.
Seria melhor que se restringissem mesmo a esse mundinho controlado e irreal. Continuem aí na calçada, de smoking e perfume, discutindo Kant e fumando seus Montecristos.
Deixem que nós, os descabelados, estropiados, rasgados e cheios de hematomas entremos na lama e desatolemos o carro. Torçam para que consigamos desatolar. Se tudo der certo, passamos aí para buscar vocês.
Se der errado, outro carro passará - e vocês serão obrigados a entrar.
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