Tem gente que nasceu pra ser sabujo e lambedor de botas. Aliás, é muita gente. É gente a dar com pau. A altivez é característica rara nos dias de hoje, em que falta dignidade e testosterona em quase todo mundo.
Estava pensando aqui naqueles advogados que dão gritinhos histéricos a cada dois minutos exigindo suas prerrogativas, exceto quando quem lhes dá a rasteira é algum supremo. Ah, quando é o STF que não lhe dá vista dos autos, ou não permite que obtenha cópia de um vídeo, por exemplo... esse é o momento em que o gritinho se transforma em olhinhos virados de cadelinha dócil, vestindo a indefectível camisa roxa com gravata branca, juntamente com aquele broche da OAB-Subseção Vila Nhocunhé pendurado na lapela do terno marrom de poliéster. Esse tipo exótico e estridente – uma espécie de Agostinho Carrara com anel de doutor – costuma ficar bem caladinho quando é o STF quem lhes nega seus direitos mais básicos.
Nessa hora, o dedinho em riste vai baixando, baixando, e acaba introduzido em alguma cavidade menos recomendada. O rabinho vai se movimentando vagarosamente para baixo, encaixando-se docilmente entre as perninhas trêmulas. O bichinho vai se encolhendo. As orelhinhas caídas ornam um olhar choroso e pidão, como quem olha esperançoso para o dono que lhe açoita, implorando – sem sucesso – para que pare e lhe dê uma migalha de atenção. Só consigo lembrar do clássico poeminha da turma do Chaves:
“Volta o cão arrependido
Com suas orelhas tão fartas
Com seu osso roído
E com o rabo entre as patas”
Ele sabe que a subserviência está pegando mal, mas, como é fraco e minguado, torce para que ninguém repare que ele só é tigrão com aquele juiz novato, com cara de otário, da comarquinha de São José das Couves.
Poderíamos passar horas e horas falando deste tipo pitoresco. Aliás, para ser justa, reconheço que essa subserviência indecente não é exclusividade de tipos humanos cafonas. Causídicos de ternos bem cortados Ermenegildo Zegna também são capazes (oh, se são!) de abaixarem as cabecinhas quando o STF caga solenemente em suas prerrogativas. Fingem que nada aconteceu, dão um sorrisinho amarelo e dão no pé, não sem antes dar aquela puxada de saco humilhante: “agradeço ao douto ministro por tanto zelar pela nossa democracia!"
Mas vamos deixar de falar desses caras. A intenção aqui era só fazer vocês lembrarem desses engodos para confrontarem com os advogados realmente altivos. Ultimamente, temos visto muitos deles por aí, defendendo bravamente aqueles que já têm a sentença condenatória decretada de antemão. Estou falando daqueles profissionais da advocacia incansáveis, e, por que não dizer, nos dias de hoje, verdadeiramente heroicos: os advogados das vítimas do 8 de janeiro.
Você poderia argumentar que eles não estão fazendo “mais do que a obrigação”... para minha sorte, ainda bem que eu não tenho como saber daqui se você teve ou não esse pensamento de bosta. Esses advogados estão fazendo, sim, muito mais do que a obrigação, porque defender presos políticos durante uma ditadura do judiciário é um ato de assunção de risco pessoal. Uma advogada foi presa nesse contexto, a dra. Margarida Marinalva. Cadê o Agostinho Carrara das prerrogativas? Já sei, está debaixo da mesa escondido com o rabinho entre as pernas fingindo que não viu!
Os advogados dos presos do 8 de janeiro são heróis. Os caras estão defendendo presos políticos durante uma ditadura do judiciário. Não antes, nem depois, mas DURANTE. Isso não é poucas merdas.
Sabendo que não há mais justiça no Brasil (a coitada da deusa Thêmis uma hora dessas já deve estar abrindo uma conta no OnlyFans), os defensores cruzaram as fronteiras do Bananil e foram buscá-la fora. Apresentaram cerca de cem denúncias individuais à OEA (Organização dos Estados Americanos) por violações de direitos humanos cometidas pelo “Estado brasileiro” (leia-se, basicamente, STF).
Além disso, acionaram a American Bar Association (a “OAB” americana) informando sobre todo o ocorrido e pretendendo obter apoio e providências junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Já que a OAB tupiniquim finge que está tudo bem na democracia relativa, os patronos tiveram que acionar a OAB na gringa! Isso é uma humilhação internacional e histórica na capivara da entidade.
Em suma, sem justiça na mais alta corte do país, e sem ter uma entidade de classe que lhes garantam as prerrogativas, esses advogados tiveram que buscar direitos (seus e dos clientes) fora do Brasil. Isso é vergonhoso para nosso país, e deixa clara a postura altiva que deveria permear todo o ambiente jurídico nacional, mas que só é adotada por meia dúzia de gatos pingados.
Só toma esse tipo de atitude quem, de fato, sente aquela chama da injustiça nas profundezas do peito, queimando e ardendo, de forma a ser impossível ficar parado olhando. Você tem que se movimentar para dissipar o incêndio e não morrer carbonizado. Quem realmente sofre com a injustiça sente isso. Lamento informar, mas se você sofre com as injustiças que vê, mas não toma nenhuma atitude que modifique o mundo exterior (sim, colocando-se em risco), é porque você não está sofrendo tanto assim. Sofre, pero no mucho.
A vocês, advogados das vítimas do 8 de janeiro, minha homenagem e minha solidariedade. Em um mundo de omissos, covardes e tiranos, levantar-se do conforto de seus escritórios e cair no mundo buscando dignidade aos injustiçados, além das fronteiras nacionais, é um ato virtuoso de coragem e altivez, digno apenas daqueles que realmente já sentiram, uma vez na vida, o peito arder.
⚠️ Este é um trabalho independente, artesanal, feito com muito amor, estudo e dedicação 📚. Se você acha esta atividade relevante, considere se tornar um apoiador (supporter💰), financiando meu trabalho, viabilizando publicações como essa e a continuidade deste canal, além de ter acesso aos conteúdos exclusivos para assinantes. ✅